palavras do Guruji

viagens pelo mundo afora e pelo universo dentro de mim


"Você não precisa viajar a um lugar remoto para buscar a liberdade; ela habita seu corpo, seu coração, sua mente, sua Alma. A emancipação iluminada, a liberdade, a pura e imaculada felicidade estão a sua espera, mas você precisa escolher embarcar na jornada interior para descobri-las."
B.K.S. Iyengar em Luz na Vida

21 de novembro de 2014

Intensivo com Faeq Biria 2014

Já se passaram quase dois meses da última publicação. Dois meses desde a passagem de nosso querido Guruji Iyengar. Tempo em que refleti muito buscando a presença dele na pratica constante de seus ensinamentos. A cada dia me sinto mais grata e feliz pela oportunidade de seguir esse caminho tão transformador e revelador. Serei eternamente grata ao yoga e a BKS Iyengar!

Acabo de voltar da Fazenda Maristela, em Tremembé, no Estado de São Paulo, onde todos os anos, temos a honra de receber o professor Faeq Biria para 5 dias de curso intensivo, mais 3 dedicados ao processo de certificação de professores de Iyengar Yoga. 

Faeq Biria é um dos alunos mais antigos do Guruji, tendo o acompanhado diretamente por bem mais de 30 anos. Responsável pelo processo seletivo em diversos países, é um professor maravilhoso, dono de uma memória e capacidade de síntese impares, e dedicadíssimo a disseminar e manter a autenticidade dos ensinamentos do Guruji. E durante esse intensivo, Śrī Faeq estava especialmente inspirado e inspirador. Ele nos contou muitas passagens suas na companhia do Guruji e todos sentimos a presença de BKS Iyengar, apesar de ele nunca ter estado fisicamente na América do Sul. Foi muito lindo!

Foram dias muito intensos de práticas. A primeira do dia iniciava às 7h com āsana-s até às 10h. Depois de um suco ou chá, às 11h, voltávamos para a prática de prāṇāyāma até o meio dia. Em seguida era servido o almoço vegetariano e tínhamos um longo intervalo até às 16h, quando voltávamos para mais uma prática de āsana-s, quando as invertidas Salamba Śīrṣānsa, Salamba Sarvāṅgāsana e suas variações eram incluídas.

ज्य गुरु




Momentos antes da chegada do Faeq na sala de pratica: alunos e tradutora a postos



Na noite de 14 de Novembro, kirtans com o recém formado grupo Cabeça de Elefante




Fazenda Maristela: (acima) nossa sala de pratica e (mais acima) a vista de dentro dela




Depois do jantar: Assembléia da Associação Brasileira de Iyengar Yoga ABIY



Estilo de vida yogui desde muito cedo: Flora grudada na barra da saia da mãe



Turma querida reunida: só sorrisos!

20 de agosto de 2014

Guruji B.K.S. Iyengar 1918 - 2014


Em homenagem ao Guruji B K S Iyengar, separo aqui algumas frases dele que me marcaram profundamente. A maioria delas foi retirada da compilação mais recente chamada B K S Iyengar, Guruji Uwach:, livro concebido e compilado por Nivedita Joshi, sem tradução para o português. As frases de outras fontes estarão identificadas.



Photo Frame a partir de imagens do Calendário 2012 
do Ramamani Iyengar Memorial Yoga Institute


"Yoga é a chave dourada que destranca as portas para a paz, tranquilidade e alegria."

"Asanas ajudarão a transformar o indivíduo ao leva-lo de um entendimento apenas do corpo em direção a consciência da alma."

"Seu corpo é a criança da alma. Você precisa nutrir e treinar sua criança."

"Você não precisa viajar a um lugar remoto para buscar a liberdade; ela habita seu corpo, seu coração, sua mente, sua alma. A emancipação iluminada, a liberdade, a pura e imaculada felicidade estão a sua espera, mas você precisa escolher embarcar na jornada interior para descobri-las." Em Luz na Vida.

"Para o yogi, o corpo é o laboratório para constante e permanente experiência e pesquisa."

"Yoga nos ensina a curar o que não precisa ser suportado e a suportar o que não pode ser curado."

"O corpo é seu templo. Mantenha-o puro e limpo para que a alma resida nele."

"Tudo que é preciso para que uma estrada se torne um caminho é a viagem de um viajante." Calendário 2012 do Ramamani Iyengar Memorial Yoga Institute.

"O corpo é meu templo e os asanas são minhas preces."

"Palavras não transmitem o valor do yoga — yoga deve ser experimentado."

"Quando a mente está controlada e estável o que resta é alma."

"Seu corpo existe no passado e sua mente existe no futuro. No yoga, eles se encontram no presente."

"O amor deve ser encarnado no menor poro da pele, na menor célula do corpo, para torna-los inteligentes, assim serão capazes de colaborar com todos os outros na grande republica do corpo." No livro Sparks of Divinity, the teachings of BKS Iyengar de 1975 a 1975, compilado por Noëlle Perez-Christiaens.

"Nosso corpo é o arco e os asanas são as flechas para atingirmos o alvo — a alma.

"Permita que a inteligência penetre uniformemente todo seu corpo até as extremidades, como os raios de sol." 

"O oceano é o Ser, as ondas são os pensamentos. O Ser é silencioso — os pensamentos fazem barulho."

"Liberdade com verdadeira disciplina é verdadeira liberdade."

"Sem experimentar amor e felicidade humanos, não é possível conhecer o amor divino." 

"Treino da mente e do corpo leva a consciência da alma."

"Espaço gera precisão, precisão gera liberdade, liberdade gera verdade (satya), verdade é Deus."

"As águas paradas de um lago refletem a beleza ao redor. Quando a mente está parada, a beleza do Ser é vista refletida nela."

"Beleza agrada os sentidos. A beatitude os transcende." Calendário 2012 do Ramamani Iyengar Memorial Yoga Institute.

"A vida é imortal; a morte e mortal." No livro Sparks of Divinity, the teachings of BKS Iyengar de 1975 a 1975, compilado por Noëlle Perez-Christiaens.

"Tenho no íntimo a esperança de que o meu fim seja o seu começo." Em Luz na Vida.





Photo Frame a partir de imagens do Calendário 2012 
do Ramamani Iyengar Memorial Yoga Institute




Jaya Guru Om  _/\_

22 de junho de 2014

Santoṣa nos Yoga Sūtras de Patañjali



No meu primeiro contato com os Yoga Sūtras de Patañjali em 2000, de cara me identifiquei com o sūtra 42 do capítulo II (sādhana pāda, o capítulo da prática) que fala sobre contentamento, um dos 5 nyamas. 

Vou contextualizá-lo usando como fonte o livro “Light on the Yoga Sūtras of Patañjali” (Luz sobre os Yoga Sūtras de Patañjali) escrito por BKS Iyengar.

Os Yoga Sūtras é uma breve obra atribuída ao mestre Patañjali que contém 196 sūtras (aforismos) sobre yoga. Por serem extremamente concisos, para compreendê-los é necessário também o estudo de seus comentários feitos por grandes sábios. Os comentários mais antigos são os escritos pelo sábio Vyasa, em sua obra Vyāsa Bhāsyā

A primeira parte dos Yoga Sūtras, samādhi pāda, defini yoga. Segundo uma tradução livre do livro de BKS Iyengar citado anteriormente, “samādhi significa yoga e yoga significa samādhi. Esse pāda explica o significado de yoga assim como o significado de samādhi: ambos como profunda meditação e devoção suprema". É endereçado a praticantes mais avançados. Ainda segundo BKS Iyengar: “Para aspirantes dotados de perfeita saúde física, equilíbrio mental, inteligência discriminativa e uma inclinação espiritual, Patañjali fornece orientação sobre disciplinas de prática e desapego para ajuda-los a obter o zênite espiritual, a visão da alma (ātma-darśana).” 

A segunda parte, sādhana pāda, refere-se a prática propriamente dita. BKS Iyengar introduz o capítulo da seguinte forma: “sādhana significa prática. Através da prática das disciplinas do yoga, alcança-se à iluminação espiritual. O sādhaka é aquele que pratica, aplicando sua mente e inteligência com habilidade, dedicação e devoção”. É endereçado aos praticantes iniciantes, como esclarece BKS Iyengar: “samādhi pāda prescreve um certo nível de prática para aqueles que possuem mente balanceada e uma realização espiritual estável. Mas Patañjali não negligencia os iniciantes. No sādhana pāda, os iniciantes são instruídos em como iniciar seu sādhana e trabalhar em direção a emancipação espiritual.

A terceira parte, vibhūti pāda, refere-se aos poderes sobrenaturais que surgem na jornada do yogue.  “Nesta busca mais íntima, poderes sobrenaturais e realizações (vibhūti-s) aparecem naturalmente pro yogue que integrou seu corpo, mente e alma. Existe um perigo do yogue ser seduzido por esses poderes. Ele deve ignorá-los a fim de prosseguir o seu sādhana até kaivalya, o ponto mais alto da existência indivisível.” 

Finalmente, a quarta parte, kaivalya pāda, fala sobre este ponto mais alto da existência indivisível, chamado de kaivalya. Segundo BKS Iyengar, “a princípio, essa parte é complexa e difícil de compreender, pois aparenta ser mais teórica do que prática, mas aspectos práticos estão presentes em cada sūtra.”  

A palavra santoṣa aparece pela primeira vez no sūtra 32 do capítulo II como um dos constituintes de niyama (observâncias éticas individuais do aṣṭānga yoga, yoga de oito partes). Antes, porém, precisamos dar uma olhada no sūtra II.29.

II.29 yama niyama āsana prāṇāyāma pratyāhāra dhāraṇa dhyāna samādhayaḥ aṣṭau añgāni 

Yama-s (restrições sobre o comportamento), niyama-s (observações éticas), āsana (postura), prāṇāyāma (controle da respiração), pratyāhāra (retirada dos sentidos), dhāraṇa (concentração), dhyāna (meditação, contemplação) e samādhayaḥ (samādhi, completa absorção) aṣṭau añgāni (são os oito aspectos do yoga).

Niyama, portanto, é o conjunto de 5 observâncias éticas individuais, que são o 2º aspecto do asṭāṇga yoga de Patañjali.

II.32 śauca santoṣa tapaḥ svādhyāya Īśvarapraṇidhānāmi niyamāh

Śauca (pureza), santoṣa (contentamento), tapa (fervor, disciplina), svādhyāya (estudo das escrituras espirituais, que leva ao conhecimento do Eu) e Īśvarapraṇidhāna (entrega a Deus) são os niyama-s.

Finalmente, chegamos ao sūtra que define santoṣa. Veremos a tradução de BKS Iyengar para o inglês do aforismo II.42 e seus comentários, onde faz uma bela associação entre todos os 5 niyama-s.

II.42 santoṣat anuttamaḥ sukhalābhaḥ

santoṣat         do contentamento
anuttamaḥ sem igual, supremo, excelente
sukha prazer, felicidade
lābhaḥ             ganhar

Do contentamento e benevolência da consciência vem a suprema felicidade. 

Através da pureza do corpo, o contentamento é atingido. Juntos, eles ateiam a chama de tapa-s, propulsionando o sādhaka em direção ao fogo do conhecimento. Essa transformação que indica que o sādhaka está no caminho correto de concentração, possibilita-o a olhar internamente através do estudo do Eu (svādhyāya) e depois em direção a Piedade (da palavra em inglês Godliness, de uso antigo do Cristianismo que significa: obedecendo Deus e levando uma boa vida).

Concluindo, vejo santoṣa como a observação constante do contentamento, que não deixa de ser um aspecto de nossa pratica regular e diligente (abhyāsa) e a aceitação de cada momento de nossas vidas, sejam eles prazerosos (sukha) ou pesarosos (duḥkha) com um certo distanciamento e desapego (vairāgya). Essa pratica constante de santoṣa em si, que não significa de modo algum apatia em relação a vida, e sim uma compreensão do que realmente somos, e o resultado dela é felicidade suprema. Assim, ser feliz é praticar constantemente o contentamento em relação a todas as manifestações da vida, praticar o contentamento em relação a cada mínimo gesto, a cada pequeno acontecimento, a cada inspiração e a cada exalação, por mais breve e “normal” que ela seja. 

Leia também

Sobre abhyāsa:
• Post de 30 de abril de 2014, Sobre abhyāsa e vairāgya.

Mais antigos, sobre contentamento:
• Post de 6 de setembro de 2009, Sobre felicidade, cachorros e crianças.
• Post de 16 de junho de 2013, Sobre BKS Iyengar e contentamento.


Os sutra-s estudados em devanāgari (na ordem em que aparecem no post)

यमनियमासनप्राणायामप्रत्याहारधारणाध्यानसमाधयोऽष्टाङ्गानि ।२९।
शौचसंतोषतपःस्वाध्यायेश्वरप्रणिधानानि नियमाः ।३२।
संतोषादनुत्तमः सुखलाभः ।४२।

Capa da edição que eu tenho do Light on Yoga Sutras of Patañjali.




23 de maio de 2014

āsana, prāṇā e arte

Começo esse post com um trecho do último livro de Geeta S. Iyengar  “Yoga in Action: Intermediate Course I”

“A prática de āsana-s é feita, em geral, visando uma sensação de bem-estar físico. Mas, junto com isso, é preciso desenvolver a arte da penetração, a arte da introspecção e a arte de olhar para a mente através do corpo. Este processo desenvolve coragem, desafia nossos medos internos e abre a mente, que muitas vezes quer permanecer em sua zona de conforto. Com a prática regular de āsana-s começa-se a sentir a disciplina e a liberdade da mente juntamente com a liberdade do corpo. Se a primeira jornada é do corpo à mente, a segunda é da mente ao corpo.
Este intercâmbio entre corpo e mente corrige a respiração e abre o canal para o prāṇa circular livremente. O prāṇa flutua e nada no corpo, atingindo cantos e recantos junto à corrente maior ou ao caminho principal, onde encontra a sua extensão, expansão, amplitude e profundidade. Isso faz o corpo interior banhar-se no prāṇa. O corpo é vitalizado com a energia prāṇika. Assim é o banho interno.”

Podemos definir prāṇa, partindo do mais denso ao mais sutil, como ar, respiração e energia vital. Desenvolvendo a arte da penetração, da introspecção e a de olhar para a mente através do corpo nos relacionamos com o prāṇa de maneiras mais profundas e conscientes. Inicialmente nos deparamos com nosso corpo mais vitalizado, funcionando harmoniosamente. Com o tempo de pratica, seguimos em direção ao objetivo último do yoga, que é a realização do que realmente somos.


prāṇa, yoga e arte

Ao fazer uma busca no Google por imagens artísticas de yoga e prāṇa encontrei várias muito interessantes. São trabalhos tão lindos que merecem ser divulgados.

Me encantei com a imagem do Kukkuṭāsana abaixo! A gravura "Prana" pertence a coleção Women and Nature da artista californiana Raina Gentry. No site http://www.raintree-studios.com/newfineartindex.html é possível ver todo o trabalho dela e ainda comprar as gravuras.









A tela abaixo, feita em tinta acrílica sobre tecido reciclado, também chama-se "Prana" (breath/life force). O nome da artista é Rhonna del Rio-Ascolese, uma americana-filipina que mora e pratica yoga em Los Angeles. O site dela chamado Filter Art é muito bacana. Veja mais em: http://www.yogaandartjourney.com/what-s-new 






Encontrei esta ilustração no site do estúdio de yoga "Sun and Moon" de Tóquio. Logo de cara gostei do que eles dizem na apresentação: "Não nos interessamos em yoga como uma mercadoria, marca ou competição. Por isso, nosso estúdio será sempre "roots", comunitário, liberal e orgânico. Amamos compartilhar a beleza e magia do yoga!" 
Infelizmente não encontrei mais nenhum trabalho do ilustrador Scott Herrington, uma pena!  http://sunandmoon.jp/past-workshops-2012/ 





30 de abril de 2014

Sobre abhyāsa e vairāgya

Yoga é uma disciplina absolutamente prática e os seus dois pilares são, em sanscrito, abhyāsa (pratica, repetição) e vairāgya (renuncia, desprendimento, desapego). Abhyāsa e vairāgya são como as asas de um pássaro, que não consegue alçar voo sem as duas funcionando conjuntamente.

Todos nós já experimentamos o poder transformador do Yoga. E quantas vezes não o sentimos na pele, nos músculos, na respiração e na mente? Muitas, certo? Mas a verdadeira transformação, aquela que perdura, que quebra padrões, só vai acontecer quando estabelecermos uma pratica constante, repetitiva e duradoura. 
Essa pratica constante aliada ao desapego em relação aos desejos e aos resultados, que são incontáveis, levam ao Yoga. Yoga que é o fim e o meio. Yoga que é citta vṛtti nirodhaḥ (cessação das atividades de citta — consciência composta de mente, intelecto e ego. YS I.2) e o caminho que leva ao contato com o verdadeiro Ser. 

Estatua de Śrī Patañjali, imagem da internet.

Śrī Patañjali em seu “Yoga Sūtra-s”* define:


I.12 abhyāsa vairāgyābhyāṁ tannirodhaḥ

अभ्यासवैराग्याभ्यां तन्निरोधः ।१२।
Pratica constante e desapego são os meios para cessar os movimentos (flutuações ou atividades) da consciência (citta).


I.13 tatra sthitau yatnaḥ abhyāsaḥ

तत्र स्थितौ यत्नोऽभ्यासः ।१३।
Pratica (abhyāsaḥ) é o esforço constante de cessar esses movimentos.


I.14 sa tu dīrghakāla nairantarya satkāra āsevitaḥ dṛḍhabhūmiḥ

स तु दीर्घकालनैरन्तर्यसकारासेवितो दृढभूमिः ।१४।
Pratica longa, ininterrupta e alerta é a fundação firme para restringir os movimentos. 


I.15 dṛṣṭa ānuśravika viṣaya vitṛṣṇasya vaśīkārasaṁjñā vairāgyam

दृ़ष्टानुश्र्रविकविषयवितृष्णस्य वशीकारसंज्ञा वैराग्यां ।१५।
Renuncia (vairāgyam) é a pratica do desapego dos desejos.


I.16 tatparaṁ puruṣakhyāteḥ guṇavaitṛṣṇyam

तत्परं पुरुषख्यातेर्गुणवैतृष्ण्यम् ।१६।

A renuncia suprema é quando transcende-se as qualidades da natureza (guṇa-s) e percebe-se a alma.

*fonte: "Light on Yoga Sūtras of Patañjali" (Luz Sobre os Yoga Sutras de Patañjali), de BKS Iyengar.


Abhyāsaḥ e vairāgya no dia a dia

Tempo é um importante obstáculo que muitos de nós, praticantes ou interessados em iniciar a pratica, nos deparamos quando pensamos em estabelecer Abhyāsaḥ. Principalmente vivendo rodeados de tantas opções e outras incontáveis distrações.

Depois de já ter experimentado alguns métodos de yoga e encontrado um professor qualificado com o qual nos identificamos, o próximo passo é organizar o tempo. 

Tenho observado na Shala Rosa Iyengar Yoga que a escolha pelos planos de aulas mais longos ajuda a manter a pratica prolongada e que definir dias fixos da semana para as praticas guiadas facilita a organização da agenda. 

Em relação a pratica pessoal em casa, o ideal é ter um cantinho reservado para isso, com espaço suficiente para que você abra seu mat e guarde os acessórios que necessite. Vale a mesma dica de definir horários fixos para a pratica. Isso ajuda a organizar a agenda reservando um tempo, curto que seja, para a sua pratica pessoal.

Nosso tempo NUNCA será suficiente, por isso o importante é dar prioridade à constância da pratica e organizar bem nossos compromissos. A disciplina é libertadora e é a única maneira de tomarmos as rédeas de nossas vidas. 

Apesar de abhyāsa e vairāgya andarem juntos, como irmãos siameses, o primeiro passo é estabelecer a pratica constante e regular. Com ela estabelecida, começaremos a desenvolver o desapego e assim formaremos as bases sólidas de nossa jornada do Yoga.

Para mais sobre os diferentes tipos de vairāgya e sobre como a pratica nos conduz a eles, ler post “Yoga e o fim do apego” de 15 de Junho de 2013, onde traduzo livremente um trecho do livro “Mobility in Stability” (Mobilidade na Estabilidade) de Geeta S. Iyengar. 

27 de fevereiro de 2014

A grande noite de Shiva


Mahashivaratri (Maha = grande, Ratri = noite)

Mahashivaratri, a grande noite de adoração a Shiva, é celebrada no 14º dia da metade escura do mês Phalguna (Fev./Março). É um festival muito popular na Índia. Os escritórios do governo e a maioria do comércio fecha para que a população tenha o dia de folga e que possa fazer a vigília noturna para Shiva.

De acordo com os Puranas, durante a grande agitação mítica do oceano chamada Samudra Manthan, um pote de veneno emergiu das águas agitadas. Deuses e demônios ficaram aterrorizados pois o veneno poderia destruir o mundo todo. Eles pediram ajuda a Shiva que bebeu o veneno mortal mantendo-o em sua garganta. Isso fez com que ela ficasse azul e desde então Shiva passou a ser chamado também de Nilakantha, o que tem a garganta azul. Shivaratri celebra esse evento no qual Shiva salvou o mundo.


Selecionei uma outra versão dos Puranas, traduzida livremente aqui do sensacional livro “7 Secrets of Shiva” (7 segredos de Shiva), de Devdutt Pattanaik.

“Um dia, Vishnu chamou Devas e Asuras para baterem Amrita, o néctar da imortalidade, do oceano de leite. Durante esse exercício o oceano vomitou muitos presentes maravilhosos reivindicados pelos Devas, Asuras e por Vishnu. Finalmente o oceano cuspiu vastas quantidades do veneno conhecido como Halahal. Ninguém quis o veneno. Então, todos rezaram para Shiva, o crédulo eremita, e imploraram a ele que recebesse o veneno. Shiva aceitou sem problema algum, pois ele não vê diferença alguma entre Amrita e Halahal. Sendo o Senhor do yoga, somente Shiva tem o poder de digerir tão terrível veneno.
Shakti, por outro lado, ficou brava com a maneira como Shiva foi  tratado. Sendo uma esposa protetora e preocupada, ela espremeu o pescoço de Shiva e não deixou que o veneno passasse além da garganta. O veneno deixou o pescoço de Shiva azul, e é por isso que ele ficou conhecido como Nila-kantha.”

Acredita-se que todos que pronunciam o nome de Shiva durante o Mahashivaratri com devoção pura são libertos de todas as ações negativas. Ele ou ela alcançam a morada de Shiva e são libertos dos ciclos de nascimento e morte.



Om Namah Shivaya

आँ नमः शिवय